Por- Mariângela de Lourdes Coutinho Souza Silva
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Imagem- Mariângela
Se eu fosse uma viola... Ah, faria um decreto, para que violeiros fossem mais adeptos aos bons tratos aos animais - e não somente vê-los como um prato saboroso a mesa, animais que peões se glorificam por dominá-los nas piores maldades ou simplesmente um animal para trabalhar em seu sítio, sua fazenda, seu rancho...
Que peões tivessem a natureza mais parecida a que apreciam da mãe natureza: algo maravilhoso, que contribui para que todos fiquem bem...
Que suas ações fossem para dignificar sua identidade, seu modo de ser , menos grotescas e mais refinadas...
Que cada violeiro pudesse valorizar suas canções sem a mentalidade de que mulher é para amar simplesmente, pra fazer parte de uma moda "xonada", mas sobretudo que fosse a companheira mais valorizada, mais amada verdadeiramente, que pudessem juntos caminhar com diferenças, mas sempre se encontrando nos horizontes...
Que suas botas de show não fossem de couro ( mas de uma material que nunca lembrasse o sacrifício de bois tão mansos, postos num abatedouro frio e cruel...)
Se eu fosse uma viola, jamais aceitaria cair em braços de homens que não demonstrassem bons sentimentos, que fossem "machos" sem precisarem perderem a sensibilidade de sua alma, de seu coração...
Se eu fosse uma viola, adoraria ser bem cuidada, sempre afinada para que minhas cordas emitissem o mais puro som, provocando uma sensação de querer mais a cada vez que me escutassem...
Se eu fosse uma viola, sentiria as mãos do artista tão sincronizadas a minha alma de madeira, que ao mesmo toque, perceberia como estava naquele dia... e então, o inspiraria ainda mais com as melodias mais doces e sutis...
Se eu fosse uma viola, jamais permitiria que me tivessem somente por ter, nada mais : pois viola tem coração, é feita de emoção! Quem me quisesse só para um simples "impressionar" mal começaria a fazer qualquer toada, pois desafinaria sem qualquer maestro ou músico poder me afinar! Seria então, a destonada viola permanente!
Mas se eu fosse uma viola e encontrasse braços que me envolvessem de verdade, que aprendessem que quando se adquire uma viola, torna-se um ser "duplificado": ela passa a ser você e você passa a ser ela:
Duas mentes pra pensar, dois corações a pulsar, quatro mãos para fazer mil acordes, quatro pernas pra caminhar, duas almas que formam uma só Luz só pra amar!
Ah, violeiros que não percebem o coração de sua viola jamais conhecerão o coração de sua mulher!
Não é ser afeminado, tão pouco capacho de ninguém, mas violeiro de verdade há de ter sensibilidade!
Que me perdoem se não gostaram de um texto tão sem "razão de ser" dentre a tradição de violeiros, mas pensem da seguinte maneira: vivemos para não sermos sempre a mesma pessoa, sempre nos aperfeiçoarmos, por isso, peões, boiadeiros, violeiros, quando olharem pra uma viola olhem para seu coração inteiro: há aí no "tum tum" ritmado espaço para ser o melhor cuidador de sua viola?
Se a resposta for positiva, que bom, sua viola é feliz com você e sua parceira também!
... Se eu fosse uma viola, imagino que seria a mais linda, mais bem trabalhada, mais afinada e ritmada viola, pra cair também nos melhores braços do compasso do amor!
Feliz noite de sábado, leitores!
Mariângela
Parabéns, vc se fez porta voz da viola que tem alma muito sensível.
ResponderExcluirObrigada, Rogério, que bom que gostou. Você é um excelente violeiro, professor!
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