sábado, 27 de janeiro de 2018

SE EU FOSSE UMA VIOLA


Por- Mariângela de Lourdes Coutinho Souza Silva
dmariangela09@yahoo.com.br
Imagem- Mariângela



Se eu fosse uma viola... Ah, faria um decreto, para que violeiros fossem mais adeptos aos bons tratos aos animais - e não somente vê-los como um prato saboroso a mesa, animais que peões se glorificam por dominá-los nas piores maldades ou simplesmente um animal para trabalhar em seu sítio, sua fazenda, seu rancho...
Que peões tivessem a natureza mais parecida a que apreciam da mãe natureza: algo maravilhoso, que contribui para que todos fiquem bem...
Que suas ações fossem para dignificar  sua identidade, seu modo de ser , menos grotescas e mais refinadas...
Que cada violeiro  pudesse valorizar suas canções sem a mentalidade de que mulher  é para amar simplesmente, pra fazer parte de uma moda "xonada", mas sobretudo que  fosse a companheira mais valorizada, mais amada verdadeiramente, que pudessem juntos caminhar com diferenças, mas sempre se encontrando nos horizontes...
Que suas botas de show não fossem de couro ( mas de uma material que nunca lembrasse o sacrifício de bois tão mansos, postos num abatedouro frio e cruel...)
Se eu fosse uma viola, jamais aceitaria cair em braços de homens que não demonstrassem bons sentimentos, que fossem "machos" sem precisarem perderem  a sensibilidade de sua alma, de seu coração...
Se eu fosse uma viola, adoraria ser bem cuidada, sempre afinada para que minhas cordas emitissem o mais puro som, provocando uma sensação de querer mais a cada vez que me escutassem...
Se eu fosse uma viola, sentiria as mãos do artista tão sincronizadas a minha alma de madeira, que ao mesmo toque, perceberia como estava naquele dia... e então, o inspiraria ainda mais com as melodias mais doces e sutis...
Se eu fosse uma viola, jamais permitiria que me tivessem somente por ter, nada mais : pois viola tem coração, é feita de emoção! Quem me quisesse só para um simples "impressionar" mal começaria a fazer qualquer toada, pois desafinaria sem qualquer maestro ou músico poder me afinar! Seria então, a destonada viola permanente!
Mas se eu fosse uma viola e encontrasse braços que me envolvessem de verdade, que aprendessem que quando se adquire uma viola, torna-se um ser "duplificado": ela passa a ser você e você passa a ser ela:
Duas mentes pra pensar, dois corações a pulsar, quatro mãos para fazer mil acordes, quatro pernas pra caminhar, duas almas que formam  uma só Luz só pra amar!
Ah, violeiros que não percebem o coração de sua viola jamais conhecerão o coração de sua mulher!
Não é ser afeminado, tão pouco capacho de ninguém, mas violeiro de verdade há de ter sensibilidade!
Que me perdoem se não gostaram de um texto tão sem "razão de ser" dentre a tradição de violeiros, mas pensem da seguinte maneira: vivemos para não sermos sempre a mesma pessoa, sempre nos aperfeiçoarmos, por isso, peões, boiadeiros, violeiros, quando olharem pra uma viola olhem para seu coração inteiro: há aí no "tum tum" ritmado espaço para ser o melhor cuidador de sua viola?
Se a resposta for positiva, que bom, sua viola é feliz com você e sua parceira também!
... Se eu fosse uma viola, imagino que seria a mais linda, mais bem trabalhada, mais afinada e ritmada viola, pra cair também nos melhores braços do compasso do amor!


Feliz noite de sábado, leitores!

Mariângela